Enviar a matéria abaixo por email
seu nome:
seu email:
nome do destinatário:
email do destinatário:
mensagem breve:

NewZ - em 22/06/2011 Com informações e fotos do portal O POVO (www.opovo.com.br)

Nando, o irmão de Zico que foi perseguido pela ditadura

Todos conhecem a família Antunes Coimbra pelo craque caçula Zico, pelo irmão “baixinho” e talentoso Edu e até mesmo pelo irmão mais velho, o atacante Antunes, que jogou na década de 60 por Fluminense, América e Cruzeiro. Poucos sabem, no entanto, que Fernando Antunes, o Nando, também foi jogador de futebol e só não seguiu a carreira porque teve problemas fora do campo.

Perseguido político nas décadas de 60 e 70, o irmão do Galinho é o primeiro ex-jogador de futebol anistiado e lançou na noite desta terça-feira, em Fortaleza, com a presença de Zico, o livro “Futebol e Ditadura - A história de Nando, o primeiro jogador anistiado do Brasil". O evento fez parte da série de homenagens organizadas pelo Ceará, clube por onde atuou em 1968.

- Para quem não viu Nando jogar, ele era canhoto, muito habilidoso e de boa técnica. É um momento importante para toda a nossa família. Só ele pode dizer tudo o que passou. Eu era muito pequeno e me lembro do sofrimento dos meus pais, dos meus irmãos, não entendia bem o que se passava. E eles escondiam de mim porque eu era muito novo quando isso começou. Mas acho importante porque esse reconhecimento está acontecendo com ele vivo, o que não é comum. Foram muitos anos de esforço para buscar os direitos dele e a Justiça tardou, mas não falhou – comentou Zico, em Fortaleza.

Nando jogou futebol exatamente no período em que o Brasil era comandado pelo regime militar, a partir de 1964. Dos irmãos Antunes Coimbra, ele era o mais ligado a prima Cecília, militante do Partido Comunista e que chegou a colaborar com o MR8 (Movimento Revolucionário). Em 1970, ela foi presa e torturada no DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), e hoje é psicóloga e presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, fundada por ela e outras vítimas do regime militar em 1985 e que se dedica ao resgate histórico e a defesa dos direitos humanos. Apesar de ser simpatizante da resistência ao regime militar, Nando jamais fez parte de movimentos armados revolucionários. No entanto, suas ideias e a proximidade com ativistas acabaram lhe custando muito caro.

No ano de 1968, o Ceará Sporting Club montava a base do grande time que seria campeão nordestino no ano seguinte. Entre os destaques estava o canhoto Nando, que guarda boas lembranças de sua passagem pela cidade de Fortaleza e revela que a perseguição política começou muito antes de jogar pelo “Vovô”.

- Nós tínhamos uma equipe forte e, quando saí daqui, tinha a certeza que aquele grupo ia conquistar algo, ou cedo ou tarde. Mas toda essa perseguição começou bem antes, na Bahia e mesmo quando eu defendia o Madureira, no Rio. Até em Portugal fui procurado pelos militares – revela Nando.

Na tarde desta terça-feira, Nando visitou a sede do Ceará, em Porangabuçu, ao lado de Zico e participou da inauguração de uma placa em sua homenagem oferecida pelo clube e por seu centro cultural. Em seguida, na Assembléia Legislativa cearense, ele participou de solenidade em que foi declarado oficialmente anistiado político pela vice-presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Sueli Bellato. No mesmo local, foi lançado o livro “Futebol e Ditadura - A história de Nando, o primeiro jogador anistiado do Brasil". A obra é uma co-autoria de 15 escritores realizada pelo Centro Cultural do Ceará Sporting Club em parceria com a Associação 64/68 Anistia, e a Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria de Esporte e Lazer. O livro traz uma coletânea de artigos de sociólogos, historiadores e colunistas esportivos para narrar a história de perseguição a Nando.