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Conexão - em 26/07/2012 por Arthur Antunes Coimbra

Iraque: Dificuldades que extrapolam as quatro linhas

Sempre fui movido profissionalmente por grandes desafios. Foi assim quando aceitei a missão de jogar no Japão e ajudar a desenvolver o futebol no país, se repetiu quando assumi o comando da seleção japonesa em busca de uma vaga na Copa e também quando segui para o Uzbequistão para treinar uma equipe que almejava o título do continente asiático. Não foi diferente com a seleção do Iraque. Sempre soube das muitas dificuldades, anos de guerras, sofrimento do povo, mas não contava com alguns obstáculos que talvez me levem a deixar o cargo antes de cumprir a missão. Esta Conexão vai falar sobre algumas destas questões.

O foco do trabalho com o Iraque é a Copa do Mundo de 2018. Um discurso que ouvi e acreditei desde o momento em que comecei a trabalhar na seleção. A recepção dos jogadores foi excelente, os torcedores iraquianos também demonstram todo carinho inclusive no Facebook, Twitter, por e-mail e acho que venho fazendo um trabalho que vai além do jogo. Emprestei minha imagem para ajudar a melhorar as condições do Iraque na Fifa e até na Uefa, presidida pelo meu amigo Plantini, eu fui atrás de apoio. Fiz isso porque acredito na força do futebol desse país, na qualidade dos jogadores mesmo diante de tantas dificuldades.

E as dificuldades não são apenas no país, que convive constantemente com ondas de atentados e as precariedades de quem viveu tanto tempo isolado por conflitos. Falo de problemas objetivos do dia a dia. A Federação ainda não consegue atuar profissionalmente de modo que a programação, o apoio aos atletas e até mesmo logística são itens ainda estão muito aquém do necessário para uma seleção. E acabo me envolvendo para apoiá-los. Tenho sete jogadores na lista para o jogo do dia 11 de setembro que nesse momento não tem aonde jogar, sem clube e sem treino, logo, sem ritmo. E a Federação não atua.

Para piorar este cenário, cheguei a trabalhar sem meus auxiliares: Moraci e Edu, que estão há quase 10 meses sem receber salários. Eu mesmo não recebo há cinco meses, mas segui trabalhando da mesma forma até o final da Copa Árabe. Lá em Jedah, durante a disputa da competição, chamei um representante da Federação e falei sobre o que estava acontecendo.

Deixei bem claro que a minha ideia era não voltar mais, a não ser que houvesse uma reviravolta. O trabalho em si, com todos os problemas, me deixa satisfeito e acho que podemos conseguir a vaga para 2014. A questão é essa falta de respeito por profissionais como nós, principalmente o Edu, que tem um histórico de serviços prestados ao futebol iraquiano.

Agora, eles me chamam para conversar sobre o contrato e tentar chegar a um acordo para que eu permaneça. Como disse, parece um acerto difícil porque preciso de garantias de que teremos tranqüilidade para trabalhar. Pelo menos nessa parte de estrutura, já que sei que o Iraque sofre com uma série de outros problemas. Por tudo isso, a tendência é que agora eu fique de vez no Brasil até que surja nova proposta. Vamos ver o que vai acontecer.

Até a próxima coluna!