Cantinho do Zico - em 26/10/2009 por Arthur Antunes Coimbra

Um gol de falta e quatro pontos perdidos

É curioso que o futebol tem tantas, mas tantas histórias que algumas acontecem no mesmo jogo, no mesmo lance e muitas vezes se perdem no tempo. Até o dia em que algum jogador se lembra. Pode ser num papo, pode ser até ao ver o lance novamente. Hora de levantar a poeira e abrir o baú onde estão guardados os cantinhos, especialmente um do dia 22 de novembro de 1987.

Talvez pela data fique difícil de lembrar, mas para os rubro-negros vai ser fácil quando eu disser que o jogo em questão foi o 3 a 1 do Flamengo no Santa Cruz, no Maracanã, partida em que marquei os três gols. Todos se lembram principalmente por causa do gol de falta e da história que Peu ajudou a resgatar do zagueiro que virou para trás porque “queria ver o gol” na cobrança de falta. O primeiro foi numa rebatida, o segundo de pênalti e teve este terceiro em que o Birigui ficou olhando para a bola. Isso no finzinho do jogo.

Bom, a história do terceiro gol todo mundo conhece até este ponto. Falta, bola foi ângulo, o zagueiro queria ver o gol e o Birigui não se mexeu. Muita gente não sabe, mas aquele lance me atrapalhou um bocado na sequência da Copa União. Abaixo tem um vídeo com os gols do jogo e, quando o vídeo chega em um minuto e 58 segundos acontece o lance: abri os quatro pontos da cirurgia que tinha feito no joelho. Você pode reparar que nos dois primeiros gols corro para a torcida, enquanto nesse eu corri para o nosso campo. E a razão é simples: fui comemorar com o nosso goleiro, o grande Zé Carlos. Lembro-me que vibrava muito correndo e o Zé veio na minha direção na frente da área.

- Valeeeeu Galo! Golaço! Golaço! – dizia.



E aí nos encontramos, eu pulei em cima dele e. quando ele me soltou bruscamente, bati com o joelho esquerdo no chao com muita forca. Doeu bastante. A sorte é que o jogo estava acabando e aí pouca gente realmente percebeu que me lesionei na comemoração.

Eu sempre brincava muito com os goleiros, implicava com eles, mas sabia que eram grandes companheiros e profissionais ao extremo. Os primeiros a sair, quase sempre os que mais se sujavam nos dias chuvosos. E por isso fiz grandes amigos como o Zé Carlos, Cantarele, Raul, Nielsen, enfim, poderia citar aqui uma dezena de ex-companheiros. E não tinha como num momento como esse, num jogo em que marquei os três gols, não ir lá dar um abraço no Zé. Só não contava que ia me contundir, mas valeu a pena. O engraçado foi ouvir no vestiário a explicação dele para o lance.

- Zico, você tem que entender que eu não estou acostumado com isso. Vocês não comemoram comigo! Aí me atrapalhei.

A turma riu bastante e teve um que ainda completou:

- Pô, Zé. O Galo marcou três gols, mas acabou perdendo quatro pontos no tapetão do Maraca!

E a reclamação do Zé valeu. A partir daquele dia, muitas vezes a gente combinava e um ia lá para abraçá-lo após um gol. E assim seguimos até a conquista do título contra o Internacional, no Maracanã. O saudoso Zé, que algumas vezes foi meu parceiro nos campeonatos de totó da concentração, adversário na sinuca, sempre disposto a participar de todos os eventos beneficentes e jogos festivos que nós organizávamos, é o homenageado deste Cantinho. Ainda teremos mais oportunidades de falar no “Zé Grandão” por aqui, mas esta história eu dedico a ele. O dia em que um gol de falta me custou quatro pontos.