Conexão - em 01/07/2015 por Arthur Antunes Coimbra

Pela ética e o jogo limpo no futebol



Nos últimos dias acabei parando no centro da polêmica ao declarar que ficava incomodado com a hipótese de ver a Seleção Brasileira ser um balcão de negócios. Jogadores que atuam fora dos grandes centros, um time dependente de um jogador só e uma dificuldade exagerada para enfrentar rivais da América do Sul. Quero deixar claro que minha crítica não é aos jogadores que foram à Copa América e nem os culpo pela eliminação. Até acho a postura de ‘pop star’ atual dos jogadores de futebol em geral um aspecto que me incomoda, mas esse é um fenômeno mundial. Há qualidade em muitos que foram ao Chile, sem dúvida, e a questão é mais profunda.

O técnico da Seleção insiste, diante de qualquer crítica, em atacar a geração que disputou a Copa de 82. Eu nunca entendi a razão. O que sei é que nas minhas andanças pelo mundo sou sempre recebido com carinho e lembrado exatamente por 82. Tenho orgulho da carreira que construí e nenhum problema em comentar os erros que cometi. Falo sobre qualquer tema sem desviar o foco. E minha carreira está aberta.

O ponto é que o futebol brasileiro hoje vive uma lacuna de comando e se desvia o foco com muita facilidade. Após a eliminação trágica na Copa do Mundo no ano passado, a CBF se apressou em dar uma resposta. Vale lembrar que o presidente da entidade na ocasião está preso na Suíça atualmente. E a estruturação começou por um coordenador de seleções que era empresário até o dia anterior.

Já fiquei incomodado ali.

Sempre tive boa relação com o Gilmar, mas lembrei imediatamente do papo que tive com ele na passagem pelo Flamengo como supervisor, quando ele me disse num jantar que o escritório de intermediação de jogadores estava fechado para ele se tornar dirigente. Ele foi firme na declaração, mas ao deixar o Flamengo levou como clientes três importantes titulares: Adriano, Juan e Reinaldo. Eu não esqueci o aquele papo e foi natural imaginar que faria a mesma pergunta a ele no ano passado, caso tivesse a chance: você ainda é empresário?

A primeira questão que passa pela minha cabeça é a ética. O termo “balcão de negócios” é uma preocupação natural, principalmente ao ver que o coordenador de seleções tem acesso a todo o desenvolvimento das divisões de base do país, além das convocações e análises de desempenho. Não é difícil perceber como a seleção atual sofre há anos com a falta de continuidade nas seleções de base. Jogadores passam por lá historicamente e depois somem. As razões podem ser muitas, mas será que estou falando alguma novidade?

A CBF vem sendo envolvida em denuncias e acusações muito mais serias do que o dilema ético que me preocupa. Jornalistas, ex-jogadores e personalidades do esporte colocam constantemente os dedos em feridas bem mais profundas, que realmente não sou capaz de me pronunciar. Não tenho provas. O que tenho é o incomodo com a presença de um ex-empresário no comando das seleções e a percepção de que a nossa equipe principal entra em campo com jogadores jovens que se valorizam rapidamente e nem sempre atuam em campeonatos competitivos. E um treinador obcecado com a geração de 82...

Eu quero o mesmo que todos os torcedores. O melhor para o futebol brasileiro. Espero que mais uma derrota, essa nova eliminação, e toda a crise institucional na CBF ajudem a colocar o futebol brasileiro em vias de uma mudança legítima, que leve democracia e transparência à entidade. Queremos as vitórias, mas o jogo precisa ser limpo dentro e fora de campo. Pelo menos foi assim que eu aprendi a jogar e foi assim que conduzi a minha história até aqui.

Até a próxima!