 Em setembro, dia 11, jogarão, em Saitama, Japão x Iraque num duelo que pode representar muito para as pretensões das duas seleções mirando na classificação para a Copa do Mundo no Brasil, penúltimo jogo do primeiro turno das Eliminatórias, em sua reta final.
Enquanto cumpro com o meu dever por aqui , o Wada, com certeza, cumpre com o dele por lá. Como acentuei na coluna anterior ("Ironia do destino - Oriental"), chegou a hora de contar as situações “sui generis” que passamos, quando juntos armávamos verdadeiras “estratégias de guerra”, na tentativa de filtrar o melhor para o Zico e para a seleção nipônica.
Na ânsia de “corujar” os sistemas táticos dos adversários e as opções dos treinadores, muita adrenalina rolou. A maioria dessas investidas no território inimigo foi de pleno êxito. Entretanto, algumas bem complicadas desafiando a nossa capacidade de atuar sem sermos descobertos.
A mais árdua, dolorosa e traumática aconteceu em Moscou, quando as seleções de todo o planeta se preparavam para fazer um bom papel na copa de 2006. Foi no amistoso Brasil x Rússia, servindo de teste para o técnico brasileiro Parreira fazer as observações e, também importante para as nossas, já que a seleção canarinho, agora “verde”, fazia parte do mesmo grupo na Copa da Alemanha.
Eu e o japinha, depois de uma intensa viagem, aterrissamos num frio de 5 abaixo de zero, aproximadamente. No dia do jogo noturno, já nas dependências do estádio do Locomotiv, a temperatura estava tão baixa que mais baixos ficamos, pelo obrigatório encolhimento dos membros superiores e inferiores dos nossos corpos...
Imaginem vocês o drama e a preocupação maior em não pegar, no mínimo, uma pneumonia!
Por isso mesmo, foi difícil para algum membro da delegação brasileira visualizar a nossa presença. Ainda mais que, pela falha de nosso anfitrião, ficamos alojados na última fileira das arquibancadas, mais ou menos como no sexto andar de um prédio.
Uma coisa incomum em se tratando de membros da federação japonesa, que sempre se preocupou em dar o melhor, reservando verdadeiros lugares vips onde quer que fôssemos. Infelizmente, neste dia o que rolou, de cima para baixo, foi mesmo um vento de filme de terror, quase de gelo formado, penetrando vagarosamente, como um punhal congelado, a cortar nossos ossos, um por um.
Que fria entramos neste dia... Caramba!!!
Juro que pensamos em voltar para o hotel e ver pela Tv. Contudo, a responsabilidade falou mais alto. Na base do sacrifício e do álcool (risos), assistimos aos dois tempos de maneiras bem distintas: o primeiro, sóbrios. Já o segundo, inteiramente bêbados.
Podem crer que foi assim mesmo, não se espantem!
A razão do porre, obviamente foi a quantidade excessiva de vodka Orloff. Mas tê-la conseguido é que foi uma verdadeira mão de obra por parte do nosso guia e anfitrião, o Sr. Voskov Federov. Ao pressentir a cor roxa, por dentro dos curtos agasalhos que vestíamos, não hesitou em sair do estádio, parar numa das lojas de conveniências e comprar tão “bendita” garrafa, sem que soubéssemos o que ele havia pensado para solucionar e amenizar, os calafrios que sentíamos. A bem da verdade, foi a “jogada” mais inteligente executada naquele dia inesquecível!
A cada lance no campo, várias goladas no cimento gélido das arquibancadas. Depois de algum tempo, lógico, o frio diminuiu, fervíamos por dentro mas os olhos não conseguiam mais acompanhar, equilibradamente, o desenrolar da partida. A fumaça da forte neblina envolvendo todo o anel do estádio e o efeito drástico da bebida em nosso organismo, acabaram por prejudicar totalmente a nossa visão.
Para vocês terem idéia, o Wada me perguntou ao término do jogo:
- Professor Edu, qual foi o resultado?
- Sabe que não sei, amigo Samurai!!!- respondi com a voz embriagada.
Foi aí que o nosso acompanhante, Voskov, apelou e, num grito ensurdecedor, completou:
- Foi 1 x 0 gol do Ronaldo, pô!
Esse “pô” dele foi muito engraçado, pois saiu no idioma russo, que só mais tarde descobrimos a tradução.
As “espionagens”, por força do estado etílico, terminaram num cassino próximo ao hotel, com uma vitória esmagadora no tapete verde de uma roleta (russa ), do único representante brasileiro que, naquele dia, vestia as cores azul e branco do Japão. Um sucesso, ajudado que foi, pelo crupiê, divertindo-se às minhas custas, segundo relato do Wada, único já refeito do vexame que cometemos, involuntariamente.
O epílogo deu-se no hotel, com o bolso feliz pelos dólares extras, mas a cabeça girando junto as paredes do quarto, por conta da “milagrosa” e mais pura vodka moscovita. No dia seguinte, já recuperados, corremos atrás do vídeo, para não deixarmos furo na hora de apresentar um dossiê para o Zico.
“Guerra é guerra” !!!!!
Pois é, amigos, na próxima coluna completo com uma “quase derrota”, desta feita na véspera de um jogo contra a Coreia do Sul.
Um grande abraço e até lá !
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