matérias especiais

em 15/06/2004

Há dois meses e meio, o CFZ do Rio apresenta uma figura diferente em seu banco de reservas que chama a atenção. É o japonês Takeshi Uedahara, de 26 anos, sempre presente nos jogos do Estadual Juvenil e Infantil com uma pasta fazendo anotações e conversando com os treinadores, mesmo que a comunicação seja através de sinais. O ex-jogador de futebol agora está estudando para se tornar treinador e fazendo um estágio no clube de Zico. Pita, comandante do time Infantil, que fala japonês fluentemente, nos ajudou nesta matéria.

A vida de Takeshi como atleta acabou precocemente devido a problemas para se profissionalizar. Como sempre acontece na Terra do Sol Nascente, ele iniciou atuando em competições colegiais em 93 e 94. A esperança de construir uma carreira coincidentemente começou no Brasil em 95, quando, entre 300 jovens japoneses que vieram ter aulas no Centro de Futebol Zico por 10 dias, foi o único convidado a fazer um teste no Kashima Antlers. Takeshi voltou ao Japão, foi aprovado e atuou pelos juniores do clube por dois anos e meio.

Em 98, era a hora de se profissionalizar e ingressar na equipe principal do Kashima, quando veio a má notícia. O clube contratou o brasileiro Bismarck junto ao Yomiuri Verdy e a diretoria decidiu que essa seria a única novidade na equipe de cima para a temporada, dispensando todos os juniores que poderiam subir naquele ano. Os jogadores tiveram que voltar às faculdades para depois tentar uma nova chance. Takeshi ainda procurou se transferir para alguma outra equipe, mas não obteve sucesso e desistiu de se tornar jogador de futebol profissional.

Mesmo deixando a carreira nos gramados, ele não queria deixar o mundo do futebol e procurou Zico para novamente lhe dar um empurrão. Num evento da Konami, durante o lançamento do fenômeno Winning Eleven para Playstation, Takeshi se encontrou com o Galinho e falou desta sua vontade de voltar ao Brasil e estudar tudo sobre o velho esporte bretão. O aspirante a técnico chegou a fazer um curso por lá, antes de vir para o CFZ se aperfeiçoar. A idéia é ficar aqui por seis meses, voltar ao Japão e depois retornar para completar um ano no país do futebol. Depois, a esperança é assumir uma equipe colegial, início natural no Japão, para passar para os garotos tudo que aprender durante este período.

Pita já considera Takeshi como um verdadeiro auxiliar técnico, pois eles conversam muito sobre futebol, as partidas, o treinamento tanto no Infantil quanto no Juvenil e muitos outros assuntos. Na partida contra o América, por exemplo, o técnico pediu que o japonês observasse a movimentação dos seus cabeças-de-área, que estavam tendo dificuldade para virar o jogo e surpreender a defesa adversária. No intervalo, o auxiliar veio com o trabalho pronto e o treinador comprovou sua impressão de que um de seus volantes estava jogando só pela direita, pois não fez nenhuma inversão durante toda a etapa inicial. "Ele está estudando mas também sendo útil para toda a comissão técnica", garantiu Pita.

Até o momento, Takeshi já aprendeu muitas coisas e, entre elas, uma característica que considera única do brasileiro. Ele já participou de vários recreativos no CFZ e também de peladas com membros e amigos da comissão técnica, onde enxergou uma regra comum: ninguém quer perder, nem em brincadeira. "Este pensamento de vitória, os japoneses não têm, a não ser no profissional, onde é obrigatório", afirma. "No futebol, o brasileiro sabe que é o melhor do mundo, tendo isso na cabeça, quando vai jogar apenas põe em prática. O japonês sabe que é bom, mas nem sempre coloca isso em prática", completa o observador auxiliar-estagiário.

Takeshi está morando na concentração do CT de Vargem Pequena e acredita que, caso estivesse morando sozinho, seria muito pior. Assim, ele segue todos os horários, apesar de ter liberdade de sair quando bem entender, e fica sempre em contato com os jogadores. O japonês se enquadrou bem neste ambiente e afirma que não veio ao Brasil para aprender só sobre futebol, mas quer saber mais sobre os costumes e a cultura do nosso país. Isso sem esquecer da língua portuguesa, que está estudando através de um curso, até para entender a orientação dos técnicos durante o jogo e no intervalo. "Depois, eu até explico para ele o que disse, mas nunca é a mesma coisa", explicou Pita.

Takeshi garante que vai levar uma lição para toda a vida. "No Japão, a gente não conversa muito um com o outro a não ser algo relativo ao trabalho, nem sequer na família", explica e completa: "aqui o diálogo é mais aberto, do pai com o filho, entre amigos". Ele pretende levar isso não só para dentro de campo, mas também para o convívio fora das quatro linhas. "Posso até não me tornar técnico, mas aprendi que o diálogo é muito importante para a minha vida", afirmou.

"Sonhava defender a Seleção Japonesa um dia, mas a realidade é outra e já fico satisfeito só em ter jogado lá, conhecido o Zico e hoje estar trabalhando no CFZ", encerra Takeshi Uedahara, partindo para mais um dia aprendendo e também dando uma lição de humildade para todos que convivem com ele.

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