matérias especiais

em 01/04/2005

Entre idas e vindas, Djalma Cavalcanti é um técnico que está há mais de dez anos trabalhando no futebol de Angola. Ele, inclusive, conseguiu o primeiro título internacional dirigindo a Seleção local em 99: a Cosafa Cup, que envolve países do sul do continente africano. Em 2003, ele assumiu o time do Santos, que tem um projeto ambicioso para a realidade do país. O clube, cujo nome homenageia o presidente Eduardo dos Santos e nada tem a ver com a equipe da Vila Belmiro, está investindo em estrutura, uma coisa até então jamais feita em Angola. O Santos já tem um estádio, está construindo uma concentração e ainda pretende fazer um centro de treinamento para se tornar realmente grande.

Djalma conta com mais dois brasileiros, com passagem pelo CFZ do Rio, em sua comissão técnica: o preparador físico Jobert e o roupeiro Cosme. Na semana passada, o Santos disputou um amistoso com o CFZ e perdeu por 5 a 0. Ao final da partida, conversamos com Djalma num bate-papo sobre futebol africano, brasileiro e muito mais:

ZNR: Como começou e como está sendo este trabalho com o Santos, de Angola?

Djalma Cavalcanti: Este trabalho é um projeto de um futuro grande clube de Angola. Temos cinco anos para pegar esta garotada que veio da Fundação José Eduardo dos Santos (presidente de Angola e patrono do clube) e chegarmos à primeira divisão nacional. A nossa preocupação é formar uma equipe, mas existem outras preocupações como a construção de uma estrutura.

ZNR: E o que exatamente compreende esta estrutura?

Djalma: Estrutura de campo, de estádio, de departamento médico, de centro de estágio, centro de treinamento... A nossa preocupação não é apenas a formação do time e dos jogadores. Daquilo que planejamos juntamente com a direção, nós já temos uns 50%, pois temos um estádio fechado para 15 mil pessoas. Estamos subindo duas torres de quatro andares cada uma onde ficarão a sala de musculação, concentração, enfim tudo que um clube precisa. Nosso time é jovem, com apenas três ou quatro atletas acima de 20 anos. Temos mais um ou dois anos para com eles e mais alguns Juniores e Juvenis, que ficaram em Angola, subir para a primeira divisão.

ZNR: Como é a estrutura atualmente dos principais clubes de Angola? Eles têm estádio, centro de treinamento...

Djalma: Não, o Santos segue uma filosofia diferente. A nossa intenção é justamente mudar a mentalidade do futebol de lá. Em Angola, pensa-se muito em fazer time e não em fazer clube.

ZNR: Parece até um país que a gente conhece...

Djalma: É verdade (risos)! Está aqui a diferença. O Zico tem um centro de treinamento que poucos clubes aqui no Brasil têm e quer subir para a primeira divisão quando for possível e com dignidade. O Santos tem este mesmo pensamento. Temos que fazer a nossa estrutura física, campos, nosso pequeno estádio, centro de treinamento e paralelo a isso estamos trabalhando com esta juventude para que tenhamos no futuro não só um grande time, mas também um grande clube.

ZNR: Você vai jogar a segunda divisão nacional. Pelo que você já me disse, os times de Angola não têm a estrutura do Santos. Mesmo sendo jovem, o Santos é o favorito?

Djalma: Seria se o campeonato fosse feito como deveria ser feito. Em Angola, nós lutamos contra a estrutura atual, pois a administração e a organização do futebol angolano deixam muito a desejar. Existem três times fortes na segunda divisão, incluindo o Santos, mas são todos da capital Luanda, por isso, colocados na mesma chave e só um se classifica para a final. A outra chave tem apenas times dos outros estados. Nos últimos dois anos, quando passávamos por um período de experiência, ficamos em segundo na chave. Mas, como queríamos subir bem estruturados, foi bom. Este ano, a intenção é chegar à primeira divisão e vamos lutar muito para isso.

ZNR: Em termos gerais, como Angola se encontra no futebol africano? Aqui, a gente não ouve falar que mesmo na África, Angola se sobressaia.

Djalma: Não se sobressai. Primeiro, temos que lembrar acima de tudo que é um país que vem de 30 anos de guerra, que acabou apenas há três anos. Angola está com um governo muito firme, que pensa principalmente em reestruturar o país. Angola tem que ser reconstruída em todos os aspectos e os governantes têm esta consciência e estão trabalhando para isso. Dentro desta visão, é preciso também reconstruir o país desportivamente. Quando não se tem clubes fortes, não se pode ter Seleção forte. Lá se pensa de maneira inversa, também pela falta de formação. Nós precisamos de dirigentes com boa formação. No Brasil, sofremos com isso também e, mesmo assim, somos pentacampeões do mundo.

ZNR: O futebol é o principal esporte de Angola?

Djalma: É aquele que apaixona mais. O angolano é apaixonado por brasileiro. Eu já vi em Angola, comentando jogos pela televisão na Copa de 94, o Brasil sendo campeão e os angolanos todos chorando, me jogando para o alto e tudo mais. Os jogos lá terminavam por volta de duas ou três horas da manhã e o país não dormia. É um povo que ama o Brasil sob todos os aspectos e principalmente no futebol. O basquete de Angola é muito bom e o handebol feminino é o melhor da África, sendo que a equipe é pentacampeã do continente. Mas a verdade é que o futebol é a grande paixão.

ZNR: O que vocês estão fazendo no Brasil neste momento?

Djalma: Entre idas e vindas, já estou em Angola há mais de dez anos. Venho para o Brasil com toda a equipe que eu treino por lá; só não vim com a Seleção. Sempre me preocupei em trazer minhas equipes para cá e começamos a nossa campanha aqui com o Zico, que sempre me abriu as portas e foi muito elegante comigo, pois nos conhecemos há mais de 30 anos. Não nos preocupamos com resultado, pois estamos aqui com um time jovem para aprender. O lugar onde temos que vir é o Brasil, para que eles ganhem consciência de que o futuro será melhor se pegarmos um pouco dos ensinamentos do futebol brasileiro.

ZNR: Pelo que vimos no amistoso contra o CFZ, a velocidade ainda é a maior arma da sua equipe e do futebol angolano em geral?

Djalma: A velocidade é a característica positiva e a inocência é a negativa. Assim que cheguei a Angola uma das maiores preocupações era travar a velocidade deles, botar para pensar, para jogar, para passar e não só correr. Isso nós já modificamos no futebol angolano, onde, hoje em dia, se toca mais a bola, acontecem triangulações, dribles e tal, tudo aliado à velocidade inata a cada um. Só que temos que cuidar muito para que eles dosem esta velocidade em benefício do bom futebol.

ZNR: E a Copa na África do Sul em 2010, como as pessoas no continente estão encarando este grande evento esportivo?

Djalma: A expectativa é muito grande. O povo sul-africano é um pouco diferente do restante do continente, pois é um pouco mais ?elitizado?. Eu já trabalhei na África do Sul por um ano e vi a boa organização deles. Como fica perto de Angola, acho que será muito bom para nós e para todo o povo africano, mas principalmente para o angolano, que vibra e é muito engajado em tudo que diz respeito a desporto. A Copa será muito boa para o desenvolvimento do futebol de Angola.

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